Dona Morte


A morte:

Me pego frequentemente escrevendo sobre você, alguns momentos me tira o sono.
Mas quem é você?
Você é o que todo ser vivo vai sentir na vida, em algum momento. É um sopro, uma dor, um alívio, um suspiro..  Não sei ao certo o que é.
Cada um te sente de uma maneira, te teme e te espera de uma maneira. Não tem idade e nem hora para chegar, não tem regra e nem pede licença para levar. Quando chega, transforma tudo que toca. Para quem vai, pode ser o alívio e a paz, mas para quem fica é a solidão, o vazio e a saudade.
Mas quem é você afinal, que tem tantas faces, que cura e leva tantas dores e separa tantos amores?

Por que Dona morte? Não sente remorso em separar tantas vidas..
Afinal, traz apenas sofrimento? 
Quem não teme sua vinda não sentiu a sua partida. Não sabe o poder que tem para mudar uma vida em pouco tempo. 
Alguns te esperam com lucidez, esperando o momento que a paz vai preencher o sofrimento, outros te esperam no vareio, sem saber que está chegando.

Sua visita:

Alguns já te esperam. Alguns sentem a sua chegada. No caso dele, ele já estava a sua espera. Com ele, você preparou o terreno para aparecer. Deixou que o mundo espiritual avisasse sobre a sua chegada, e a partida dele.
Quem está em volta e não sabe o que acontece, acha que tudo não passa de um drama. “A dona morte vir visitar agora? Não! Ele ainda tem muito tempo!” Mas ele não tinha.
Ele viu a sua chegada, além de te ver e sentir, ainda ousou anunciar. “Vou morrer” e morreu.
Mas nesse caso a sua visita o aliviou da dor, por isso ele te esperava.
Me questiono se você só traz sofrimentos, no caso dele, trouxe a paz! Mas não para quem ficou..

Agora ela, ela não te aguardava. Lutava com todas as suas forças para não te ver tão cedo, já tinha perdido tanto, queria ser forte e viver mais. Ela e ele, mãe e filho, com um fim tão similar e próximo.
Talvez a mãe não aguente ficar sem o filho, mas ela lutou tanto!
Durante toda sua vida foi uma mulher forte, e o seu final não seria diferente. Ela foi tão forte e negou tanto a sua chegada, que não conseguiu se anunciar. O único jeito foi levá-la desacordada, sem poder te ver. Não pôde se apresentar a ela, pois acordada ela jamais permitiria que você se aproximasse. 
Mas infelizmente já nascemos com prazo de validade, e o momento dela chegou

Quem te teme:

Teme quem já teve sua vida modifica.
Uma vez que você aparece, ninguém te esquece. 
Por onde te citam, é o mistério e o temor.
Por que não diz para onde levá-los?
Você já apareceu tantas vezes para meus entes, que frequentemente penso em ti. Quando será sua próxima aparição?

Sorte daqueles que nunca te viram, nunca sentiram. Com eles, o pensamento em ti não deve ocorrer com frequência, pois ainda não sabem o poder do luto, que destrói tudo o que já foi construído. O poder de levar uma parte minha com ele, e no lugar do seu pedaço, me dar o vazio. 
Ah depois da sua partida, não teve um dia sequer que não me senti vazia e sozinha. Aprendi a lidar com a solidão. 
Mas é um processo doloroso.
Você deixou saudade, dor e vazio
Por que você é a única certeza que tenha nessa vida?
Tudo que nasce, morre.
Tão injusto essa ser a única certeza.

Mas acho que já passei tempo demais falando sobre você… Está na hora de te deixar fora dos meus pensamentos.
Não posso sofrer a vida inteira pela sua visita, não sei hora e nem lugar
Preciso deixar rolar.
Essa se tornou uma carta aberta de despedida.
Adeus, Dona morte.

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